terça-feira, 18 de agosto de 2015

Democracia das panelas: o livre direito à manifestação.


Viva la revolución! Dilma pegou em armas de fogo para tirar os militares do poder, bem como grande parte da esquerda brasileira. Sabemos que na verdade os grupos de esquerda revolucionários queriam instituir naquela época uma ditadura nos moldes cubanos no lugar da ditadura militar instalada. O brasileiro tem recorrido a uma arma pouco ortodoxa para tirar do poder os militantes de um partido que tem ditado as regras na política nacional nos últimos 13 anos através do jogo sujo da corrupção.

Um texto de Antônio Prata publicado na Folha tem causado polêmica nas redes sociais. Antônio Prata pergunta por que as panelas batem só para o PT. Para quem não o conhece, Antônio Prata se intitula meio intelectual, meio de esquerda, um intelectual de botequim. Eu, que não sou intelectual, e não frequento botequim, mas sou conservador, quero defender o toque das panelas. Reproduzo abaixo o texto, em vermelho (cor apropriada) e respondo em preto (também apropriadamente, afinal estou de luto pois meu país está moribundo).

Temos toda a razão de bater panelas quando a presidente aparece na TV dizendo que a culpa por nossa pindaíba é da crise internacional. Mas por que não batemos panelas quando Eduardo Cunha, o líder dos "black blocs" brasileiros, vândalo que faz política com pedras, bombas e coquetéis molotov, vai em rede nacional dizer que trabalha "para o povo", "sempre atento à governabilidade do país"?

Respondo a Prata e a quem interessar porque o povo brasileiro não bate panelas quando Eduardo Cunha aparece na TV. O povo sabe que a crise que vivemos não é obra de Eduardo Cunha. Eduardo Cunha não tem conduzido o país para a condição tão deletéria que vivemos. Eduardo Cunha aliás é um grande desconhecido para muitos, poucos conhecem seu passado político a fundo e Cunha foi eleito por seus pares deputados, muitos inclusive do PT, para a presidência da câmara, não pelo povo. O desgoverno do país não se deve a Eduardo Cunha, mas a quem tem as rédeas do país nas mãos.

Temos toda a razão de bater panelas contra a corrupção da Petrobras. Mas por que não batemos panelas contra o mensalão mineiro ou o cartel do metrô paulistano? Por que não batemos panelas contra a compra de votos para a reeleição do FHC? Por acaso pagar apoio na Câmara é mais grave do que pagar emenda na Constituição?

Não acho justo o povo brasileiro se unir em panelaço contra o PSDB, afinal não é o PSDB que tem roubado toda a nação. Particularmente acredito que o partido não é a oposição que o Brasil precisa, e não representa uma oposição ideológica ao PT. Não batemos panelas para a reeleição de FHC pois o PSDB pode ter feito o diabo para mudar a lei eleitoral permitindo a reeleição, mas FHC foi reeleito pelo povo. O PT foi contra a reeleição, está na situação há 13 anos e fez o diabo para reeleger 2 candidatos. Se foi contra a reeleição antes, porque mudou? Batemos panelas contra o PT, pois o PT não tem palavra. O PT não é sério.

Temos toda a razão de bater panelas contra o retrocesso econômico de 2015. Mas como podemos não bater panelas contra o anel de pobreza que desde sempre engloba as metrópoles brasileiras, essa Faixa de Gaza de tijolo aparente, essa Cabul de laje batida onde se amontoa boa parte da população?

O povo brasileiro não bate panela contra a violência e a pobreza da periferia, pois o povo brasileiro está acostumado a sofrer e ficar calado, a pegar fila do SUS, a ter o filho na escola fraca. O povo bate panela contra aqueles que agora chamam o povo que vive na “faixa de gaza de tijolo aparente” de “nova classe média”, só porque agora lá todos têm TV LCD de tela grande e geladeira nova, se esquecendo que o povo precisa de mais do que isso. Falta dignidade e respeito ao povo brasileiro por parte daqueles que não reconhecem os seus erros ao ouvir o soar das panelas. Viveram as últimas décadas desfilando como os arautos da moralidade, probidade e lisura, proclamando a si mesmos como os descobridores do novo Brasil. Jogaram na lama aquilo que trazia orgulho para o povo brasileiro.

Temos toda a razão de bater panelas quando o governo se cala diante dos descalabros venezuelanos e da ditadura cubana. Mas por que não batemos panelas diante do fato de nosso principal parceiro comercial ser a China, maior ditadura do planeta? O tofu que alimenta aquela tirania é feito com a nossa soja e os fazendeiros, ruralistas e empresários que acusam a "venezualização" do Brasil são os mesmos que lucram com o dinheiro comunista. Ninguém bate woks por causa disso?

Antônio Prata não entende que não são apenas meia dúzia de aristocratas e latifundiários que estão com a panela na mão. O povo brasileiro está com as panelas nas mãos porque exportamos soja, açúcar, minério de ferro e tantas outras commodities mas temos que importar médicos cubanos para garantir a saúde do povo brasileiro. O povo bate panelas porque nossa indústria está desmoronando. Os metalúrgicos, quem diria, são os mais afetados. Aqueles da indústria automobilística. Onde está Lula agora? Por que não está defendendo os trabalhadores? Ele deve estar ocupado fazendo lobby para algum campeão nacional. 

O resultado do que vemos é o enfraquecimento do Mercosul e a política de comércio exterior implementada pelo PT que estendeu os laços comerciais com a China e transformou de vez o país em somente um fornecedor de commodities. O povo bate panela porque sabe hoje que os amigos do rei e da rainha, as empresas que surfaram na onda gigante das commodities, foram favorecidas com empréstimos e aportes financeiros bilionários do BNDES em troca de doações de campanha, lícitas e ilícitas (caixa dois). São os grandes campeões nas doações de campanha.

Temos toda a razão de bater panelas contra o estelionato eleitoral do PT. Mas por que não batemos panelas contra o estelionato eleitoral do PSDB, que elege repetidamente um governador tipo "gerente", prometendo "e-fi-ci-ên-ci-a" em cada sílaba, mas coloca São Paulo à beira do co-lap-so-hí-dri-co"? Um cristão cuja polícia, não raro, participa de grupos de extermínio, na periferia. Esta semana, foram 18 chacinados em Osasco e Barueri. Imagina se fosse no Iguatemi? E o estelionato das UPPs, no Rio, que prometem paz, mas torturam um cidadão até a morte e somem com o corpo?

Quem elegeu repetidamente Alckmin não foi o PSDB, mas o voto do povo de São Paulo. O povo não bate panelas contra o colapso hídrico, o povo colabora e coopera economizando água. Assim como o povo pesquisa preço e economiza para fugir da inflação. O povo economiza luz, pois vivemos uma situação drástica com as térmicas acionadas a todo vapor literalmente pela falta de chuvas. O povo bate panela e grita: A nossa bandeira jamais será vermelha! mas infelizmente a bandeira tarifária que Dilma enfiou goela abaixo depois de prometer redução é. E o PT deveria estar vermelho de vergonha por isso, bem como aqueles que se dizem meio intelectuais, meio de esquerda.

"Não, não, isso não! Me mata, mas não faz isso comigo!", gritava o Amarildo, segundo um policial que testemunhou a barbárie, dentro de um contêiner. Como pode a nossa maior preocupação em relação ao Rio, hoje, ser com a qualidade das águas para as Olimpíadas de 2016? Cadê o Amarildo? Cadê as panelas?

O povo grita nas ruas da mesma maneira que Amarildo, não pela violência policial, mas pela violência moral que sofre e pelo policiamento do pensamento do politicamente correto, meio intelectual, meio de esquerda. Não sabemos quem matou Amarildo para cobrar sua punição, mas sabemos agora quem tem esfaqueado as contas públicas, conhecemos agora uma nova classe de parasitas que afagam enquanto sugam o dinheiro público, fruto do suor do povo brasileiro, para alimentar um projeto particular de poder. A maior preocupação do povo não é com a qualidade da água do Rio, afinal o povo de panelas na mão não é como o PT, que está mais preocupado com a SABESP ao invés de estar preocupado com a boa administração pública.

Temos toda a razão de sair pra rua, neste domingo, para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do governo. Mas por que não sair pra rua para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do país como um todo? Um país que mata seus jovens, sonega impostos, polui, compra carteira de motorista, licença ambiental, alvará, dirige pelo acostamento, estupra, espanca e esfaqueia mulher (mas retira a discussão de gênero do currículo escolar), um país onde os negros correspondem a 15% dos alunos universitários e a 67% da população carcerária.

Todos erramos. Somos imperfeitos. O que tem nos tornado assim ao longo dos séculos é a impunidade. A sociedade nos impõe regras que desafiam nossa conduta ética e moral, mas há uma lei da física que se aplica à sociedade: Para toda ação, há uma reação. Os mecanismos legais tratam de punir os erros dos indivíduos ou grupos. É o método de reação que a sociedade moldou através dos séculos para garantir a punição aos erros humanos, para que não mais se repitam e a sociedade evolua. Mas como vemos no Brasil, quando faltam educação, respeito, cidadania, e os meios de garantir a justiça não funcionam, há impunidade.  E quando fica evidente a impunidade, a sociedade se revolta, muitas vezes transbordando os limites da lei, como quando ocorre linchamento de estupradores e pedófilos e o ataque ao Instituto Lula, por exemplo. O problema do Brasil não são os brasileiros, mas sim a impunidade.

O povo bate panela e reconhece seu erro. Grande parcela daqueles que votaram no PT nos últimos 13 anos, em alguma das últimas eleições hoje batem panela e reconhecem que erraram. Os brasileiros recebem a justa punição em terem errado nas urnas, através da inflação, do desemprego crescente e da retração econômica. Mas o que tem despertado nos brasileiros os instintos mais primitivos é a impunidade frente a corrupção daqueles que sempre se disseram diferentes, probos, alvos, sãos, mas na verdade são ladrões hipócritas.

Eu bato panela e reconheço, fui incompetente, fui burro. Fui incompetente em não participar ativamente da democracia. Em não analisar a fundo os candidatos. Em não cobrar meu deputado quando da votação de algum projeto importante para mim e para meu país. Fui incompetente ao não conseguir mudar meu país para melhor participando ativamente da democracia, pelo contrário, abaixei a cabeça. Fui burro ao permitir que a situação chegasse a esse ponto onde retrocedemos ao invés de crescer. Fui burro ao pensar que não podia fazer nada. Agora sou punido junto com o povo brasileiro. Mas não posso continuar errando, preciso melhorar. Não será mais desta vez que somente o povo será punido. Basta de impunidade, basta de corrupção, basta de improbidade, basta de negligência e basta de indecência na política do Brasil. O povo está aprendendo a lição: a democracia emana do povo, vem de baixo para cima, é alimentada pelo povo.

Este ódio cego, esta parcialidade hipócrita, este bombardeio cirúrgico que pretende eliminar o PT — e só o PT — para "libertar o Brasil", empoderando Renan Calheiros e Eduardo Cunha, não é o desabrochar da consciência cívica, é mais um fruto da nossa incompetência, mais uma vitória da corrupção; palmas para a nossa burrice.

O PT desperta no brasileiro esse sentimento tão primitivo que é o ódio. O povo reage e bate panela contra o PT porque o PT merece. Porque se diziam diferentes e se demonstraram sórdidos. Porque se diziam limpos e vivem no chiqueiro. Porque o PT não reconhece seus erros, porque o PT não pede desculpas ao povo brasileiro por ter colocado o país na lama e nas manchetes do mundo no maior escândalo de corrupção da história da humanidade. Quem é hipócrita nessa história? Quem prometeu e mentiu? Quem amealhou para si através de programas sociais a imagem de um partido comprometido com o povo quando por debaixo do pano desviava bilhões e mais bilhões e mais bilhões e mais bilhões, para alimentar um moto-perpétuo de poder?

O PT é parcial e hipócrita. Parcial pois só pensa em seu projeto de perpetuação de poder. É hipócrita pois engana e rouba como nunca antes na história deste país. Hipócrita é quem se diz intelectual e defende a burrice da impunidade. É hipócrita e parcial quem se diz de esquerda, mas não olha para a situação do povo que tem o poder de compra do salário reduzido através da inflação, povo que vê sua moeda desvalorizar e sua economia regredir para uma época que todos queremos esquecer.

Que sejam punidos todos os que traíram a pátria saqueando o dinheiro que deveria ser destinado ao bem comum, independente do partido. Mas o ódio que foi despertado no brasileiro é contra o mais hipócrita dos partidos: o PT. Sinônimo de mentira, engano, ultraje. O ódio é resultado da hipocrisia e traição do PT ao povo que acreditou em suas falácias.

Os semi-intelectuais de esquerda atribuem ao povo brasileiro a incompetência de seus mentores. O povo quer gritar: Fora incompetentes! Fora ladrões! Fora mentirosos! Mas os intelectuais “de botequim do Itaim” querem calar o povo.

O Brasil precisa mudar para melhor, e o melhor é extirpar o PT do poder e eliminar este câncer sorrateiro que espalhou o tumor da corrupção por todos os órgãos federais e ameaça a vida do povo brasileiro. O povo precisa ser cirúrgico nessa hora, e então passar a escolher seus governantes não pelo marketing, mas com consciência e cobrar ativamente suas autoridades para que não haja recidiva desta doença crônica que é a corrupção. Independentemente de partido, o povo precisa usar o bisturi da democracia. O povo precisa ter esse papel ativo sempre, em especial sempre que o Brasil estiver à beira do colapso. As panelas são as armas do povo brasileiro contra a impunidade. O povo tem papel ativo na sociedade, e é hora de assumirmos essa postura. Se for preciso bateremos panelas, são as armas da democracia brasileira. O brasileiro é livre para se manifestar. 

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